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4 de fevereiro de 2015

Entrevista: George dos Santos Pacheco, autor de "O fantasma do Mare Dei" e "A Dama da Noite"


George dos Santos Pacheco nasceu em Nova Friburgo, região serrana do Estado do Rio de Janeiro, em 07 de outubro de 1981. Publicou “O fantasma do Mare Dei”, pela Editora Multifoco, em 2010, e participou da Coletânea “Assassinos S/A Vol. II”, também da Multifoco.
Em 2013, foi premiado em 1º lugar, na categoria crônica, e em 2º lugar, na categoria conto, no 1º Concurso Literário da Câmara Municipal de Nova Friburgo, Troféu Affonso Romano de Sant'anna.
Em 2014, teve seu conto "A Dama da Noite" adaptado para um curta metragem homônimo, através do coletivo audiovisual "Sétima Literal". As filmagens aconteceram em Nova Friburgo, com uma equipe formada na própria cidade. Publicou ainda este ano o conto “Os Americanos que Vieram do Céu” na revista digital Trasgo #5.
1 – Primeiramente, seja bem vindo ao Barato Cultural! Nós fizemos uma pequena apresentação sobre o teu trabalho, que tem sido basicamente na internet. Fale um pouco como é ser escritor na era digital.
Pacheco: Eu que agradeço a oportunidade! Bem, eu acredito que antigamente deveria ser muito difícil. Imaginem a dificuldade para escrever à mão, ou digitar na máquina de escrever. Um erro era fatal, tudo deveria ser feito novamente. E para revisar? Cristo, o avanço da tecnologia mudou tudo. Com o auxílio da internet, ficou muito mais fácil publicar um texto, que antigamente só era feito em jornais ou pelas editoras. Quando eu procurava editoras para publicar meu livro – comecei a escrever em 2006 e só o editei em 2010 – descobri que muitos buscavam sue lugar ao sol publicando em blogs e decidi fazer o mesmo. Criei a Revista Pacheco, e passei a oferecer espaço para aqueles que também querem publicar seus textos na rede, totalizando mais de cinquenta autores, desde a criação do site. A internet também é um divisor de águas na literatura. Imagine o que não teria feito Machado de Assis com o auxílio da web?
2 – Mas você não acha que de certa forma a internet tornou as relações mais superficiais, mesmo com todos os benefícios que ela oferece em divulgação e publicação?

Pacheco: Eu acho que isso vai depender do uso que se faz da internet. Tudo em excesso faz mal, até água. Quando inventaram o telégrafo e o telefone, será que esse questionamento também não foi feito? A internet é um facilitador das comunicações, mas isso não quer dizer que eu deve me comunicar somente por ela. Eu trabalho na rede, mas participo de saraus, eventos literários, e distribuo livretos nos sinais de trânsito. O escritor não pode ficar atrás do teclado e esperar que os leitores o descubram. Ele deve aproveitar as relações feitas via web e ir para a rua, conversar tête-à-tête, participar de eventos. A internet é um meio, não é o fim. O cara que não reconhece isso está fadado a permanecer atrás do computador para sempre.

3 – Foi bom você ter tocado no assunto. De onde veio essa ideia de distribuir livretos nos sinais da sua cidade?

Pacheco: Quem me inspirou foi um grupo de dança da minha cidade, o Grupo Coreto. Ele tem esse nome porque fazia seus ensaios no coreto de uma praça, no centro de Nova Friburgo. Acontece que alguém teve a brilhante ideia de se apresentar nos sinais da cidade, tão logo fechassem e isso fez com que muitos conhecessem o trabalho deles. Então eu pensei – na época eu ficava mais atrás do computador do que na rua – que apesar do meu trabalho na internet estar acessível para todos, muitos na minha própria cidade não tinham conhecimento disso. Daí eu fiz o mesmo: produzi alguns livretos com meus contos e crônicas e passei distribuí nos sinais.

4 – E como foi a receptividade das pessoas?

Pacheco: A mais variada possível. Alguns agradeciam muito felizes por terem ganhando uma crônica, outros subiam o vidro a medida que eu me aproximava, e havia ainda aqueles que afirmavam não ter dinheiro, mas quando avisados que o material era gratuito, mudavam de opinião. Mas no geral, a receptividade foi muito boa.

5 – Você acha que essa abertura das pessoas se deve a algum fato específico, elas te reconheceram da internet, de algum evento que você tenha participado, ou não tem relação com nada disso?

Pacheco: As pessoas estão ávidas de cultura. Podemos ver isso pela quantidade de eventos culturais que vem surgindo nos últimos anos, entre feiras literárias, eventos de dança, ou teatro por exemplo. Atravessamos um período da nossa história em que as instituições estão perdendo credibilidade; vemos diariamente notícias de falcatruas, sem podermos fazer muita coisa, além de um individualismo crescente (todos querem salvar sua própria pele, antes de qualquer coisa). Mas na mesma medida em que as pessoas estão se tornando mais individualistas, existe um movimento inverso. O homem é um ser social, não há como escapar dessa condição, e a cultura é uma das saídas neste processo, uma espécie de válvula de escape.

6 – E qual é a contribuição da Literatura nesse processo?

O Romance de estreia de Pacheco

Pacheco: Eu acredito que a Literatura está presente na história da humanidade desde os tempos mais remotos. Os desenhos rupestres, por exemplo. São registros do cotidiano daqueles homens, com a linguagem que eles possuíam naquele momento, o desenho. Eram, crônicas. Literatura. Depois esse processo evolui para a literatura oral, histórias contadas ao redor de fogueiras, e depois para o registro delas nos livros. Até mesmo outras formas de arte – em minha opinião – surgiram com fulcro na literatura, como o teatro e o cinema. Ou seja, a literatura evoluiu junto com o homem através dos séculos.. Ela é capaz de criar suspensões da realidade: é como se enxergássemos a nós mesmos e a sociedade “pelo lado de fora”, e assim criamos condições de agir sobre ela, provocando mudanças significativas.

7 – Em seus textos você costuma provocar esse olhar crítico do leitor?

Pacheco: A ideia é essa. Alguns de meus textos tocam em traços da nossa sociedade a fim de instigar o leitor a pensar, a raciocinar a ser “leitores de mundo”, como afirmava Paulo Freire. Os livros são mais “espelhos” do que “janelas”. O texto literário precisa ter esse caráter transformador, até porque, mesmo sendo ficção, é uma representação da realidade. Vejamos “O Pequeno Príncipe”, de Saint Exupéry. Por meio de metáforas, ele fala da sociedade e das relações humanas para crianças, se tornando um marco para gerações. Isso é muito importante, não dá para fazer literatura sem isso.

8 – Seus contos “A Dama da Noite”, recentemente adaptado para curta metragem, e “Os Americanos que Vieram do Céu”, publicado na revista Trasgo, têm essa característica?

Pacheco: Em “A Dama da Noite”, apesar do clima de suspense, eu falo de um amor impossível. Ora, a vida é cheia de amores impossíveis. Contudo, muitas impossibilidades são criadas por nós mesmos. Em “Os Americanos que Vieram do Céu”, um texto de ficção científica, eu também abordo o amor, a guerra, e ainda, o ceticismo. As pessoas acreditam em coisas variadas, mas eu acho que a crença mais importante está em nós mesmos. Não se trata de religião, não é nada disso. Cada um tem sua fé (mesmo que seja ateu, esse cara crê no ateísmo), mas antes de qualquer coisa é preciso acreditar em nosso potencial (podemos muito mais do que imaginamos), e na humanidade como um todo. Ainda há chance. Se fizéssemos tudo que podemos, não seríamos subjugados e manipulados com tanta facilidade.

9 – E você está trabalhando em algo atualmente? Podemos aguardar novidades?

Pacheco: Ultimamente tenho dividido meu tempo com a administração da Revista Pacheco, os textos da coluna na Revista Êxito Rio, e minhas colaborações em sites e jornais, como “A Voz da Serra” e o curso de Pedagogia. Mas eu consegui ainda um tempinho suado para trabalhar em um romance este ano, que já concluí e enviei para editoras. É um material em que eu acredito muito, uma história recheada de intrigas, sexo, humor, e que tem tudo para agradar os leitores.

10 – Que bacana! Estamos ansiosos por este livro. O Barato cultural está aberto para a divulgação de sua obra, tão logo ela saia do forno. Gostaríamos de agradecer novamente pela entrevista, e agora, vamos deixá-lo à vontade para falar o que quiser. Solte o verbo!

Pacheco: Eu que agradeço o espaço oferecido para falar um pouco sobre o meu trabalho. Vou terminar com duas citações que eu gosto muito: uma de Fernando Sabino, e outra, de Fernando Pessoa:

“De tudo ficaram três coisas: A certeza de que estamos começando; A certeza de que é preciso continuar; e a certeza de que podemos ser interrompidos antes de terminar. Façamos da interrupção um caminho novo... Da queda, um passo de dança... Do medo, uma escada... Do sonho, uma ponte... Da procura, um encontro!”
O Encontro Marcado, Fernando Sabino.

“E assim escrevo, ora bem, ora mal, Ora acertando com o que quero dizer, ora errando, Caindo aqui, levantando-me acolá, Mas indo sempre no meu caminho como um cego teimoso.”

Deste ou daquele modo, Alberto Caeiro

Um comentário:

  1. Que entrevista legal! Que o Pacheco continue esse trabalho maravilhoso e alcance o merecido reconhecimento! Parabéns!

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