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25 de agosto de 2014

A primeira vez em que eu quase morri, por George dos Santos Pacheco


Uma experiência de quase morte não é algo muito fácil de esquecer, sobretudo quando se tem 16 anos. Nessa época, eu era um rapaz latino-americano, franzino e com algumas espinhas na testa. É verdade, era mais do que eu desejava, se é que alguém deseja ter espinhas. Eu era o típico adolescente: cheio de sonhos, impulsivo e medroso. Mais medroso que impulsivo, aliás.
Então, no verão de 1998, um tio – que era sócio de um clube na cidade – teve a brilhante ideia de levar minha família à piscina do dito cujo. Havia uma espécie de comemoração, e um amigo dele animava a festa tocando um teclado. Foi um evento bacana. Eu, mesmo medroso – e sem saber nadar – entrei na piscina e ensaiei algumas braçadas, perto da borda esquerda (que eu não sou bobo, nem nada, não é mesmo?). Braçada daqui, braçada de lá, resolvi fazer a travessia, chegando onde não era possível apoiar os pés.
Já próximo ao fim do tanque, duas garotas conversavam apoiadas na beirada e eu fiz o que nenhum ser racional o suficiente faria numa situação de dificuldade. Eu tinha dado somente algumas toscas braçadas e já me achava o César Cielo. Resolvi fazer graça com elas: “Se eu não conseguir chegar lá, vocês me ajudem, hein?”. Elas riram. Devem ter pensado: “Que idiota!”.
O fato é que eu me distraí o suficiente para me atrapalhar, como se eu precisasse de muita coisa para isso. Dei mais duas braçadas e estiquei a mão direita para alcançar a borda, mas meus dedos resvalaram no azulejo, eu não estava perto o bastante. Foi aí que começou o meu flagelo: tentei agarrar-me à borda mais algumas vezes, porém, eu afundava rapidamente, mesmo lutando contra isso. O ar ficava proporcionalmente mais escasso, à medida que o desespero aumentava. E mesmo numa situação tão intensa eu consegui ser sagaz o suficiente para ter uma ideia extraordinária: bastava que eu descesse até o fundo (que distava apenas dois metros), desse um impulso, e enfim, segurasse a borda. Meu plano era infalível!
Comecei a afundar, então. Era só dar um impulso e tudo certo. Afundei mais um pouco. Como eu não tinha pensado nisso antes! Afundei mais. Caramba, cadê o fundo que não chega nunca? Cristo, Senhor! Eu estava morrendo e seria rápido. Comecei a soltar bolhões de ar, os últimos que me restavam. Aquela história de ver a vida passar em sua frente, veja querido leitor, se aconteceu, eu nem percebi. Eu só pensava que estava morrendo, e me debatia. Na lápide estaria escrito: “Aqui jaz um rapaz latino-americano, franzino e idiota o suficiente para cantar duas garotas na parte mais funda da piscina sem saber nadar”.
Olhei para cima, e uma forte luz dominou meus olhos, ofuscando-me, temporariamente. E no meio dessa luz eu vi uma mão, e eu senti uma paz tão grande que eu nem me preocupei se ia morrer ou não. Segurei a mão e meu corpo foi ficando cada vez mais leve, muito leve, e subitamente fui arrancado para fora da água. A luz era o sol, e a mão era da minha mãe, a única pessoa que percebeu que tinha alguma coisa errada. Todo mundo estava pensando que era uma brincadeira minha, logo eu, que não brinco com essas coisas.
Fiquei com a maior vergonha das garotas e uma dor de cabeça tão forte como nunca senti em minha breve vida. Mas aprendi. Se você não souber fazer, não faça. Se mesmo assim for fazer, não se distraia, principalmente se isso puder lhe custar a vida. E por último e não menos importante, se mamãe falar, dê-lhe atenção, porque mãe, meu amigo, vê coisas que ninguém mais vê.

George dos Santos Pacheco

* Crônica premiada em 1º lugar no 1º Concurso Literário da Câmara de Nova Friburgo (07 de novembro de 2013)

18 de agosto de 2014

Revista Pacheco: o site literário de Nova Friburgo


A Revista Pacheco é uma revista virtual voltada à publicação de conteúdos sobre Literatura, Arte e Cultura em geral, com especial enfoque à Literatura, idealizada e mantida pelo escritor friburguense George dos Santos Pacheco desde setembro de 2009.

Segundo o autor, no início, o sítio servia única e exclusivamente para divulgar seus textos, notícias sobre músicas, filmes e curiosidades. Mas aos poucos foi se tornando um espaço maior, onde foi possível a publicação de conteúdos sobre Literatura, Arte e Cultura em geral, mas com especial enfoque à Literatura,  proporcionando um espaço para os novos autores e divulgando contos, crônicas e poesias de autores clássicos da Literatura Brasileira e Internacional.
Em 2014, o site passou a contar com colunistas e a realizar desafios literários, com o objetivo de fomentar a produção literária, e ensejar uma oportunidade para que novos autores e os mais experientes possam interagir, gerando uma consequente troca de experiências e amadurecimento literário. Além disso, o leitor também poderá ter no site informações sobre Nova Friburgo, sua história e pontos turísticos, além de ficar sabendo sobre eventos culturais, dicas de leitura, lançamento de livros e concursos literários em todo o país.


Mais de cinquenta autores já passaram pela Revista Pacheco, o que você poderá conferir neste link

Não conhece a Revista Pacheco? Acesse já! Se você é leitor, terá material à vontade para degustar. Se é escritor, saiba como enviar seu material e participe logo do site!

12 de agosto de 2014

Revista Pacheco: Pequenos autores da Escola do Vale de Luz, de Nova Friburgo, terão seus poemas publicados na Revista Pacheco


A Escola do Vale de Luz, participante da Olimpíada de Língua Portuguesa "Escrevendo o Futuro", de 2014, selecionou cinto textos no tema  “O lugar onde vivo”, na categoria Poema, que serão publicados a partir de hoje na Revista Pacheco, a fim de estimular a produção literária e valorizar a participação dos jovens na competição.

Os autores dos poemas selecionados são alunos do 5° ano da instituição escolar: Andressa dos Santos Ouverney, Daniel de Oliveira, Kassiano Vertulli de Lima Rodrigues, Ícaro Calandra Schottz e Geisla Knupp Moreira.

A Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro é uma iniciativa do Ministério da Educação (MEC) e da Fundação Itaú Social, com coordenação técnica do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária, que desenvolve ações de formação de professores com o objetivo de contribuir para a melhoria do ensino da leitura e escrita nas escolas públicas brasileiras.

A Olimpíada tem caráter bienal e, em anos pares, realiza um concurso de produção de textos que premia as melhores produções de alunos de escolas públicas de todo o país; em anos ímpares, desenvolve ações de formação presencial e a distância, além da realização de estudos e pesquisas, elaboração e produção de recursos e materiais educativos.

 

7 de agosto de 2014

G1: Veja destaques da programação da Bienal do Livro de São Paulo

Nomes de fora da literatura participam, como Emicida e Alex Atala. Evento vai de 22/8 a 31/8; Fernanda Montenegro lê Vieira na abertura.

Do G1, em São Paulo
Fernanda Montenegro (Foto: Neilson Barnard / Getty Images / AFP Photo)
Fernanda Montenegro, que participa da Bienal do Livro de SP (Foto: Neilson Barnard/Getty Images/AFP Photo)
A 23ª Bienal do Livro de São Paulo acontece entre 22 e 31 de agosto no pavilhão de Exposições do Anhembi. Nesta edição, o tema é "Diversão, cultura e interatividade: Tudo junto e misturado".

A proposta prevê atividades relacionadas a outras áreas além dos livros, como música, teatro, gastronomia e dança. Além de escritores best sellers, como Kiera Cass (da triologia "A seleção") e Harlan Coben (nº na lista do "New York Times"), participam nomes como o rapper Emicida e o chef de cozinha Alexa Atala. Veja os destaques abaixo

Na abertura, a atriz Fernanda Montenegro vai ler trechos de sermões do padre Antônio Vieira (1608-1697).

De acordo com a organização, a edição 2014 da Bienal do Livro de SP se dividir em oito grandes espaços: Arena Cultural, Escola do Livro, Cozinhando com Palavras, Salão de Ideias, Espaço Imaginário, Anfiteatro, BiblioSesc e Estande Edições SESC.

A programação completa, com os horários de cada uma das atividades, deve ser anunciada no dia 14 de agosto.


Veja os destaques de cada um dos oito espaços da 23ª Bienal do Livro de SP:

Arena Cultural
A organização informa que aqui autores, tanto nacionais quanto estrangeiros, participam de sessões de bate-papo e de palestras. Alguns dos desaques são Harlan Coben, Cassandra Clare, Ken Follett, Sally Gardner, Kiera Cass, Hugh Howey, Mário Sergio Cortella, Paulo César Araújo e o Eduardo Spohr.

Retirada de senhas meia hora antes de cada evento.

Salão de Ideias
De acordo com a nota, o tema do Salão são "discussões atuais e de amplo interesse, abordando temas de relevância social, livro e leitura, literatura e suas conexões com outras linguagens artísticas". Participam nomes como Jeff Lindsay, Cristovão Tezza, Patrícia Melo, Luiz Ruffato, Milton Hatoum, Silviano Santiago, Hans Ulrich Gumbrecht, Alex Ross, Chico César, Ziraldo e Eva Furnari.

Retirada de senhas na bilheteria do espaço, meia hora antes da abertura das mesas. Vagas limitadas.


Anfiteatro
Estão previstos 44 espetáculos de teatro, música, dança, circo e cinema, sempre inspirados pela literatura. A programação é relacionada ao Sesc São Paulo. Os shows vão ser feitos por Hermeto Pascoal, Zélia Duncan; Lirinha, Emicida, André Abujamra, Tetê Espíndola, Rita Gullo (com participação do pai, o escritor Ignácio de Loyola Brandão e Zeca Baleiro.


No teatro, estão previstas as peças "Imago – Uma lua n'água", O filho eterno", "Carta ao pai", "O natal de Harry" e "A hora errada".

Os filmes previstos são "O menino e o mundo", "Uma história de amor e fúria", "Hoje eu quero voltar sozinho", "Eduardo Coutinho, 7 de outubro" e "A fantástica fábrica de chocolate" (o de 1971).

Na área de dança, vão ser apresentadas as montagens "Livro", "Eu em ti", "Clariarce" e  "Pequena coleção de todas as coisas". Já o circo vai ser representados pelas apresentações dos espetáculos "Circo de pulgas", "O descotidiano" e "WWW para freedom".

Para o público infantil, foram selecionadas oito peças, dentre elas "Felpo Filva", "Cocô de passarinho" e "As bruxas da Escócia".

Distribuição de senhas na bilheteria, meia hora antes do início das atrações. Vagas limitadas.

Cozinhando com Palavras
Livros de gastronomia e debates sobre literatura, comida e cultura são os assuntos do espaço, que tem curadora do chef André Boccato. A proposta é a mesma das edições de 2010 e de 2012 da Bienal. Também foi levada à Feira do Livro de Frankfurt em 2013. Dentre os participantes convidados agora, estão Alex Atala, Palmirinha, Rodrigo Oliveira, Carlos Bertolazzi, Roberta Sudbrack, Carla Pernambuco e Monica Rangel.

Retirada de senhas meia hora antes de cada evento.


Espaço Imaginário
Espécie de "ateliê aberto", como descreve a organização, o espaço é voltado ao desenho. Haverá materiais disponíveis para desenho livre. São, ao todo, 36 encontros com ilustradores, desenhistas, cartunistas e quadrinistas, descreve o material de divulgação. Já cofirmaram nomes como Maria Eugenia, João Montanaro, Luke Ross, Lúcia Hiratsuka e Manu Maltez.

Participam também Regina Drummond, Karen Acioly, Daniel Munduruku, Pedro Bandeira, Eva Furnari, Pam Gonçalves, Tatiana Feltrin, Heitor Pitombo, Cassius Medauar, Marcelo Cassaro, Rogério Saladino, Gabriel Niemietz e Jéssica Campos.

Distribuição de senhas no local, meia hora antes do início das atividades, com vagas limitadas.


BiblioSesc
Nas duas praças do evento, quatro caminhões-biblioteca deve oferecer ao público 120 atividades O  BiblioSesc vai ter de contação de histórias a espetáculos de música e literatura. Em "Clássicos da periferia", são convidados Ellen Oléria, Rappin Hood, OGI, Rael, Marcelo Gugu, Xis, Nega Gizza e GOG.

Edições Sesc
No estande, haverá lançamentos de livros, bate-papos e intervenções artísticas. Dentre os encontros, destaca-se o de Alice Ruiz e Estrela Ruiz Leminski, mãe e filha do poeta Paulo Leminski.


Escola do Livro
Cursos, workshops e palestras para quem trabalha com criação, produção, promoção e venda de livros.

Retirada de senhas meia hora antes de cada evento.


23ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo
 
Quando: de 22 a 31 de Agosto de 2012
Onde: Pavilhão de Exposições do Anhembi (Av. Olavo Fontoura, 1.209, Santana).
Horário de visitação: de segunda a sexta-feira das 9 às 22h (com entrada até as 21h); sábados e domingos, das  das 10h às 22h (com entrada até as 21h).


Fonte: G1

6 de agosto de 2014

Revista Pacheco: Escritor friburguense comporá Comissão Julgadora Escolar da Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro



A Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro é uma iniciativa do Ministério da Educação (MEC) e da Fundação Itaú Social, com coordenação técnica do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária, que desenvolve ações de formação de professores com o objetivo de contribuir para a melhoria do ensino da leitura e escrita nas escolas públicas brasileiras. 

A Olimpíada tem caráter bienal e, em anos pares, realiza um concurso de produção de textos que premia as melhores produções de alunos de escolas públicas de todo o país; em anos ímpares, desenvolve ações de formação presencial e a distância, além da realização de estudos e pesquisas, elaboração e produção de recursos e materiais educativos.

As escolas participantes devem compor uma comissão julgadora para selecionar um texto, trabalhado no tema  “O lugar onde vivo”, que precisa ser enviado digitalizado ao concurso e a Comissão Julgadora Municipal até o dia 15 de agosto. Os inscritos da rede municipal concorrerão na categoria Poema.

Vinte textos serão selecionados na etapa nacional, que ocorrerá em dezembro, bem como os professores inscritos, alunos e suas escolas serão premiados. O professor e o aluno receberão uma medalha, um notebook e uma impressora. E a escola premiada receberá dez computadores, uma impressora, um projetor multimídia, um telão para projeção e livros.

A origem
 
O programa foi criado em 2002 com o objetivo de contribuir para a melhoria da escrita de estudantes de escolas públicas brasileiras. Voltado inicialmente para alunos de 4ª e 5ª séries do Ensino Fundamental, o tema “O lugar onde vivo” era trabalhado em três gêneros textuais: Reportagem, texto de Opinião e Poesia.

O programa continuou sendo realizado em duas vertentes: o concurso, nos anos pares, e as ações de formação presenciais e a distância, nos anos ímpares. Em 2004, o gênero Reportagem foi substituído por Memórias Literárias e, em 2005, foram criadas a Revista Na Ponta do Lápis, distribuída a todos os professores participantes, e a Comunidade Virtual Escrevendo o Futuro.

Em sua 4ª edição, espera-se contar com a participação de milhares de professores e alunos de escolas públicas em todo o país.

Escritor friburguense comporá Comissão Julgadora Escolar

Como parte das ações da Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro, o escritor George dos Santos Pacheco comporá a Comissão Julgadora Escolar da Escola do Vale de Luz, fundamentada na Pedagogia Waldorf. A instituição é uma iniciativa de caráter comunitário e público, em turno integral, que promove o autodesenvolvimento de adultos, a partir da co-autoria da gestão escolar e da tarefa de educar, oferecendo a crianças e jovens a possibilidade do desenvolvimento do pensar, do sentir e do querer, para que estes possam tornar-se adultos com capacidades para atuar socialmente de forma justa, autônoma e fraterna.



"A Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro é uma excelente iniciativa do poder público e privado,  com resultados significativos no fomento à produção literária, na formação de professores e no resgate da cultura local, ao tratar o tema "O lugar onde vivo". É um orgulho fazer parte desse projeto", afirma Pacheco.

 
A Pedagogia Waldorf é um dos desenvolvimentos das teorias de Rudolf Steiner, além da medicina antropofísica e a agricultura biodinâmica. Para atingir a formação do ser humano, a pedagogia atua no desenvolvimento físico, anímico e espiritual do aluno, incentivando o querer (agir) por meio da atividade corpórea das crianças em quase todas as aulas. O sentir é estimulado na constante abordagem artística e nas atividades artesanais específicas para cada idade.

Hoje a Escola atende a cerca de 130 crianças, de 3 a 11 anos, em turno integral, das 7h30 às 16h30, funcionando em um belo casarão no bairro de Conselheiro Paulino, em Nova Friburgo. A Escola conta com duas classes de Educação Infantil (1º ao 3º período) e cinco classes de Ensino Fundamental (do 1° ao 5° ano). Além destas classes, a Escola também possui uma classe de Pedagogia Curativa, destinada a crianças com necessidades sócio-educacionais especiais.

 

31 de julho de 2014

Revista Êxito Rio: Inexplicável


George dos Santos Pacheco
 
Mês passado um primo distante veio me visitar, um daqueles parentes que a gente nem tem tanto contato (um filho do primo do meu pai, foram pouquíssimas as vezes em que nos encontramos), mas enfim, sangue é sangue, e quando eu soube de sua vinda, não me opus a hospedá-lo em minha casa. Fiz pequenas reformas, dei pintura nas paredes, melhorei o jardim e a varanda, combinei cardápios, organizei passeios, eventos...  tudo para causar boa impressão e deixar o mancebo à vontade – afinal, o que ele diria aos outros quando retornasse à Europa? 

Pois bem, o ruço chegou e ficou muitíssimo à vontade mesmo – até mais do que deveria. O cara já impressionava pelo porte físico: alto, loiro, biótipo atlético, olhos claros e um grande sorriso de dentes alinhadíssimos. Arranhando ridiculamente a última flor do Lácio, contava as histórias mais magníficas e mirabolantes de sua terra, as aventuras nos Alpes, as belezas da Baviera e seus castelos – enfim, todo o tipo de coisa que só quem tem bala na agulha pode fazer – e encantou a Dona Maria com sua simpatia e seus feitos heroicos. É claro, eu não me senti nem um pouco confortável com isso, e fiquei com uma pulga (duas, três, sei lá quantas...) atrás da orelha. E quem não ficaria? 

A cada semana ele arrumava uma desculpa para ficar mais uma, e mais uma...  e assim foi protelando a partida por quase um mês inteiro. E minha cabeça acumulava tantas preocupações, tantas desconfianças que, naquele fatídico dia, a meio do caminho do trabalho, dei por falta de minha pasta de documentos. Poderia ter continuado sem ela, mas brequei o carro cantando pneus, e fiz meia volta, correndo o mais que podia a fim de não chegar mais atrasado ainda no trabalho. 

Chegando em frente de casa, estacionei o carro de qualquer maneira, e entrei. O lugar tinha um silêncio estranho, daquele tipo que bem poderia ser chamado de “prenúncio da agonia”. Aliás, o ambiente não estava tão silencioso assim: havia um rangido insistente e uma espécie de choro baixinho e ritmado, bem no fundo, como interferência em linha telefônica. Minha estranheza se devia não apenas pelo tipo dos sons, mas porque não deveria haver nada nem ninguém por ali, naquele momento, que pudesse produzi-los: minha esposa estava no trabalho e meu primo ficou de sair para garantir sua passagem de volta pra casa (graças à Deus!). Então segui o som furtivamente, poderia ser um ladrão e eu precisava surpreendê-lo – e o mais importante, saber fazer isso. 

Os rangidos e o (choro?) vinham do meu quarto (como assim do meu quarto?), e aumentavam de intensidade a cada passo que eu dava. Então, chegando ao umbral, tetanizei: flagrei minha esposa e meu primo na cama, transando apaixonadamente – e fazendo coisas que eu nem me lembrava de ter feito com ela! Logo aqui, dentro da minha casa! 

Senti-me um completo idiota, e mais ainda, por ter confiado nesse vagabundo desse loiro desgraçado! Chorei copiosamente, não de tristeza, mas de raiva. O cara, desde o início estava de olho na minha mulher (o que realmente não era muito difícil, haja vista sua beleza extraordinária). Naquele momento, foi como se eu tivesse sido transportado para outra dimensão: completamente estatelado, observando os dois, corpos que se entrelaçavam em braços, pernas, suor, suspiros e beijos, como se fossem um bicho apenas, uma espécie qualquer de polvo lascivo que nem sequer percebia minha presença. Então me dei conta que muitos outros flertavam com minha mulher, o tempo inteiro: o vizinho dançarino de tango, o motoboy, o cara do yakisoba... todos, todos eles disputavam minha mulher, e o pior é que eu acho que ela gostava disso: de se sentir desejada, dos olhares, das cantadas... exibindo-se como se fosse um prêmio. Safada! 

Há quanto tempo isso vinha acontecendo? Teria sido apenas essa vez, ou sempre que tiveram oportunidade? (Uma, duas, três... sete vezes... Sete?! Não, sete seria muito, para tão pouco tempo). Caminhando pelo quarto, fungando minhas lágrimas – enquanto os dois trepavam alheios ao meu espectro cornulento, preso naquela dimensão etérea do flagrante dos cornos – fiquei pensando numa saída honrosa para a situação (se é que havia alguma): 

• Descer o cacete nos dois. 

Essa opção ajudaria – e muito – a descarregar minha raiva, mas teria consequências muito desagradáveis. Todos saberiam que eu fui corno, os dois me denunciariam por lesão corporal, e não ia ter jeito, os dois iriam mesmo para a Europa, rindo da minha cara até o sol explodir em uma anã branca. 

• Descer o cacete nos dois até deixá-los meio-mortos. 

Nesse caso, a variação seria apenas a intensidade da porrada, só para valer à pena ser preso e  servir de chacota pros dois (e pro mala do dançarino de tango, que não perde uma oportunidade de me sacanear). 

• Matar os dois. 

Sem comentários (eu não tenho coragem pra isso). 

• Fingir que não vi nada, dar meia volta e ir para o trabalho. 

Essa, de fato, seria a pior e mais humilhante opção dentre todas. Mas eu precisava entender, pode ser que tenha sido apenas uma fraqueza da Dona Maria, vá lá, acontece com todo mundo... mas poderia ser também que o desgraçado a levasse para a Europa com ele... 

Não! Eu enlouqueceria! 

E se eu simplesmente anunciasse minha presença, sei lá, com uma pigarreada, talvez? Para quem está traindo existe um saco infinito de desculpas. Flagrados, rolariam cada um para um lado, ofegantes, pedindo com as mãos espalmadas para que eu me acalmasse, que poderiam me explicar, que tudo não passava de um terrível engano, que não era nada disso que eu estava pensando e coisa e tal. Mas e o traído? O que eu explicaria? Por que eu fui traído? Não tem explicação no mundo para isso. Eu não tinha. 

Enquanto eu filosofava sobre o chifre, caminhando de um lado para o outro, o Hans deitou de barriga para cima e ficou assistindo minha mulher atuar – aparentemente cansado, ou talvez para não me humilhar ainda mais (será que ele se preocupava com isso mesmo?). O fato é que, eu não fiquei ali para ver como aquilo terminava, evidentemente. Recuei, e caminhei de volta para a sala, mais sorrateiro ainda do que na chegada. Quanta humilhação! Eu que sempre me julguei esperto, malandro, fui vencido pela inteligência do alemão. Calculou friamente seu bote, me enredou e traçou a Dona Maria. E agora cá estou eu, com o rabo entre as pernas, procurando desculpas para o inexplicável. Fiz escolhas erradas?  Talvez, mas eram as escolhas que eu considerava as melhores. Fui teimoso? Talvez, mas eu apenas confiei em mim mesmo. E essa é a parte fácil, difícil mesmo é confiar nos outros. 

Peguei minha pasta, entrei no carro e segui para o trabalho, já sem pressa, sem medo de chegar atrasado, qualquer coisa que acontecesse não seria pior que a “bolada nas costas” que eu havia levado. E o que me resta agora? Ficar choramingando enquanto ele festeja? Não! Planejar minha vingança, detalhadamente. Vou juntar uma grana boa e inventar uma viagem internacional daqui a algum tempo – talvez quatro anos sejam suficientes para me preparar. Vou para... a Rússia, é Rússia é um bom lugar. Até lá, quem sabe, o Hans não esteja casado, e não seja eu quem vá lhe por um par de chifres? Na volta para casa eu traço a mulher dele. E se acaso ele ainda não for casado, quem estiver lá vai pagar o pato: sua irmã, sua mãe... eu não quero nem saber. Tudo bem, eu não sou nenhum galã, não tenho os recursos que ele tem, mas às vezes, não são os favoritos que chegam à frente – e temos inúmeros exemplos disso. 

E quando ele me perguntar “mas por quê?”, eu direi “você se lembra do que fez comigo há quatro anos?”, e darei uma gargalhada sombria e sarcástica. E então, ele vai sentir o sabor amargo do inexplicável. Quatro anos é meu prazo, está decidido. Aguardem-me! 

30 de julho de 2014

Revista Pacheco: I Jornada de Letras do Polo EAD de Nova Friburgo e I Concurso Literário Polo Poético será realizada em 16 de agosto


Será realizada em 16 de agosto de 2014, a I Jornada de Letras do Polo EAD de Nova Friburgo.

O evento será uma oportunidade para estudantes de todos os cursos e tutores do Polo terem contato com a arte literária. Uma conversa sobre o processo de criação de poesias, livros e outras obras, a relevância de alguns artistas nacionais, como Cecília Meirelles e Cora Coralina, além de apresentações artísticas diversas são algumas das atividades agendadas para este grande dia.

O escritor George dos Santos Pacheco, autor de "O fantasma do Mare Dei", e premiado em 1º lugar, na categoria crônica, e em 2º lugar, na categoria conto, no 1º Concurso Literário da Câmara Municipal de Nova Friburgo (2013), Troféu Affonso Romano de Sant'anna, participará do evento, na Mesa Redonda "Experiência Literária".

Como parte do evento, será realizado o I Concurso de Poesias Polo Poético, que promete ser um sucesso! O prazo para envio de textos termina no dia 30 de julho! E o mais interessante é que alunos de todos os cursos podem participar! Haverá premiação para os melhores textos e o melhor declamador, escolhidos por uma banca examinadora, e também para o texto mais votado pela Internet – em uma página cujo link será divulgado posteriormente. O regulamento do concurso pode ser baixado aqui. O concurso será aberto a toda a comunidade do CEDERJ e também externa.
 

G1: Humoristas, cantor, físico, arquiteto: Flip amplia domínio de 'não escritores'

  Programação tem autores de não ficção e convidados de fora da literatura. Eles somam 60% dos participantes do evento, que começa nesta quarta.


Mais da metade dos autores convidados para a 12ª Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), que começa nesta quarta-feira (30), é formada por escritores de não ficção ou por "não escritores". Dos 47 participantes, 28 (ou 60% do total) não têm como ocupação a literatura de invenção, seja prosa ou poesia.
Jamais este número, em termos absolutos ou comparativos, foi tão elevado. A média geral desde a estreia da Flip, em 2003, era de 35%. Dava mais ou menos 1 a cada 3. Nos últimos anos, a tendência é de crescimento desse percentual, com raras oscilações. Em 2013, a não ficção foi maioria pela primeira vez. Agora, o predomínio aumenta.
Há nomes como Marcelo Gleiser (físico), Claudia Andujar (fotógrafa), David Kopenawa (líder indígena), Edu Lobo (músico), Cacá Diegues (cineasta), Paulo Mendes da Rocha (arquiteto), e Reinaldo e Hubert (humoristas do "Casseta & Planeta"). E ainda jornalistas como Andrew Solomon, David Carr e Michael Pollan.
Alguns desses e outros convidados de edições passadas podem ter se aventurado pela ficção eventualmente, mas figuram nas mesas pelo diálogo com o factual ou por obras que brilham, digamos, fora do papel e das letras.
Há casos como os de Chico Buarque, Fernanda Torres e Nuno Ramos, que são identificados primordialmente com outras áreas, mas ganharam destaque na ficção, agraciados com elogios da crítica e prêmios literários importantes.
 Hobsbawm afirmou que ele tinha vivido "no século mais extraordinário e terrível da história humana" (Foto:  AFP/©Effigie/Leemage)
O historiador Hobsbawm foi convidado da 1ª Flip
(Foto: AFP/Effigie/Leemage)
Marcelo Gleiser (Foto: Divulgação/Ufam)
O fisico Marcelo Gleiser já foi na Flip
(Foto: Divulgação/Ufam)
Cacá Diegues (Foto: Divulgação)
O cineasta Cacá Diegues participa da Flip neste ano
(Foto: Divulgação)
O curador da primeira e da segunda Flip, Flavio Pinheiro, diz que gostaria de ter antecipado a tendência. "Eu confesso que lamento ter trazido pouca não ficção", afirma ao G1 por telefone. "Mas é porque eu acho que, para a festa se impor, o mais importante era botar na mesa talvez a melhor ficção do mundo. Grandes expoentes da ficção simplesmente não tinham o Brasil", descreve. Em sua vigência, vieram Don DeLillo e Julian Barnes, dentre outros.
“Mas acho que 11, 12 edições depois, é positivo que tenha uma opção razoável e grande de não autores. Porque alguns desses não autores são jornalistas de primeiríssima ordem. Fico dizendo que esta Flip 2014 é muito boa para jornalista”, completa, citando nomes como Andrew Solomon, David Carr, Michael Pollan e Glenn Greenwald .
"Eu estou a favor do critério da atual curadoria, não contra. Acho que o critério do Paulo [Werneck] é muito defensável. É bom dar uma renovada por aí, insisto nisso", avalia Pinheiro. "Da minha parte gostaria de ter feito mais, mas acho que a tarefa principal era outra: atrair o grande escritor de ficção, porque havia um déficit com relação a isso."
Veja abaixo, ano a ano, a lista completa dos escritores de não ficção ou "não autores" de todas as edições da Flip.
2003 – 28% de escritores de não ficção ou não escritores
Nº de convidados: 25
Nº de escritores de não ficção ou não escritores: 7
Quem são: Eric Hobsbawm (historiador), Drauzio Varella (médico) e Jurandir Freire Costa (psicanalista), Zuenir Ventura (jornalista), Joaquim Ferreira dos Santos (jornalista), Ruy Castro (jornalista) e Eduardo Bueno (jornalista).

2004 – 14% de escritores de não ficção ou não escritores
Nº de convidados: 37
Nº de escritores de não ficção ou não escritores: 5
Quem são: Caetano Veloso (músico), José de Souza Martins (sociólogo), Davi Arrigucci Jr. (professor de teoria literária, crítico e ensaísta), Isabel Fonseca (jornalista) e José Miguel Wisnik (professor de teoria literária e músico).

2005 – 36% de escritores de não ficção ou não escritores
Nº de convidados: 36
Nº de escritores de não ficção ou não escritores: 13   
Quem são: Anthony Bourdain (chef e apresentador), Arnaldo Jabor (cineasta), Beatriz Sarlo (ensaísta), Benedito Nunes (filósofo), Evaldo Cabral de Mello (historiador), Isabel Lustosa (cientista política), Jon Lee Anderson (jornalista), Luiz Eduardo Soares (antropólogo e cientista político), MV Bill (rapper), Pedro Rosa Mendes (jornalista), Robert Alter (crítico literário), Roberto Schwarz (crítico literário e ensaísta) e Vilma Arêas (crítica literária).

2006 – 16% de escritores de não ficção ou não escritores
Nº de convidados: 37
Nº escritores de não ficção ou não escritores: 6
Quem são: Christopher Hitchens (jornalista), Eduardo de Assis Duarte (professor de teoria literária), Fernando Gabeira (político e jornalista), José Miguel Wiskik (professor de teoria literária e músico), Lillian Ross (jornalista) e Philip Gourevictch (jornalista).
     
2007 – 31% de escritores de não ficção ou não escritores
Nº de convidados: 39
Nº escritores de não ficção ou não escritores: 12
Quem são: Arnaldo Jabor (cineasta e jornalista), Barbara Heliodora (crítica teatral), Eduardo Tolentino (diretor de teatro), Fernando Morais (jornalista), Lawrence Wright (jornalista), Leyla Perrone-Moisés (ensaísta e professora de literatura), Lobão (músico), Luiz Felipe de Alencastro (historiador), Maria Rita Kehl (psicanalista), Paulo Cesar de Araújo (jornalista e biógrafo), Robert Fisk (jornalista) e Ruy Castro (jornalista).
       
2008 – 38% de escritores de não ficção ou não escritores
Nº de convidados: 40
Nº de escritores de não ficção ou não escritores: 15
Quem são:  Carlos Lyra (músico), Elisabeth Roudinesco (psicanalista), Guilherme Fiuza (jornalista), Humberto Werneck (jornalista e biógrafo), José Miguel Wisnik (professor de teoria literária e músico), Lorenzo Mammì (crítico de arte), Lucrecia Martel (cineasta), Luiz Fernando Carvalho (diretor de TV e cinema), Marcelo Coelho (jornalista e ensaísta), Misha Glenny (jornalista), Pierre Bayard (professor de literatura e ensaísta), Roberto DaMatta (antropólogo), Roberto Schwarz (crítico literário e ensaísta), Rodrigo Naves (crítico de arte e ensaísta) e Sergio Paulo Rouanet (ensaísta, filósofo, antropólogo e tradutor).  

  
2009 – 33% de escritores de não ficção ou não escritores
Nº de convidados: 33
Nº de escritores de não ficção ou não escritores: 11
Quem são: Alex Ross (crítico de música e ensaísta), Arnaldo Bloch (jornalista), Catherine Millet (curadora e crítica de arte), Davi Arrigucci Jr. (professor de teoria literária, crítico e ensaísta), Domingos de Oliveira (cineasta), Edson Nery da Fonseca (bibliotecário e professor universitário), Gay Talese (jornalista), Grégoire Bouillier (jornalista), Richard Dawkins (biólogo), Simon Schama (historiador), Sophie Calle (artista conceitual).

2010 – 41% de escritores de não ficção ou não escritores
Nº de convidados: 37
Nº de escritores de não ficção ou não escritores: 15
Quem são: Angela Alonso (professora de sociologia), Azar Nafisi (professora de literatura e escritora), Benjamin Moser (biógrafo), Berthold Zilly (pesquisador e tradutor), Edson Nery da Fonseca (bibliotecário e professor universitário), Fernando Henrique Cardoso (político e sociólogo), Hermano Vianna (antropólogo), John Makinson (jornalista e editor), José de Souza Martins (sociólogo), Luiz Felipe de Alencastro (historiador), Maria Lúcia P. Burke (pesquisadora), Peter Burke (historiador e ensaísta), Ricardo Benzaquen (professor universitário), Roberto Darston (historiador) e Terry Eagleton (filósofo e crítico literário).

2011 – 44% de escritores de não ficção ou não escritores
Nº de convidados: 34
Nº de escritores de não ficção ou não escritores: 15
Quem são: Antonio Candido (crítico literário e ensaísta), Claude Lanzmann (cineasta e escritor), David Byrne (músico), Eduardo Vasconcelos (sociólogo e engenheiro), Enrique Krauze (jornalista, historiador e ensaísta), Gonzalo Aguilar (crítico e professor de literatura), João Cezar de Castro Rocha (professor de literatura), John Freeman (jornalista e editor), José Celso Martinez Corrêa (diretor de teatro), José Miguel Wiskik (professor de teoria literária e músico), Luiz Felipe Pondé (filósofo), Marcelo Ferroni (jornalista e editor), Márcia Camargos (jornalista e biógrafo) Miguel Nicolelis (médico neurocientista) e Teixeira Coelho (curador);

2012 – 19% de escritores de não ficção ou não escritores
Nº de convidados: 43
Nº de escritores de não ficção ou não escritores: 8
Quem são: Alexandre Pimentel (geógrafo e gestor cultural), Fernando Gabeira (político e jornalista), James Shapiro (crítico literário e professor), Luiz Eduardo Soares (antropólogo e cientista político), Roberto DaMatta (antropólogo), Silvia Castrillón (pesquisadora), Stephen Greenblatt (crítico literário e professor) e Zuenir Ventura (jornalista).

2013 – 55% de escritores de não ficção ou não escritores
Nº de convidados: 41
Nº de escritores de não ficção ou não escritores: 23
Quem são: Cleonice Berardinelli (professora de literatura), Dênis de Moraes (jornalista e escritor), Eduardo Coutinho (documentarista), Eduardo Souto de Moura (arquiteto), Erwin Torralbo (pesquisador), Francisco Bosco (ensaísta), Gilberto Gil (músico), Jeanne-Marie Gagnebin (pesquisadora e professora), John Jeremiah Sullivan (ensaísta), Lourival Holanda (professor de literatura), Mamede Mustafa Jarouche (professor de literatura e tradutor), Maria Bethânia (cantora), Marina de Mello e Souza (historiadora e professora), Miúcha (cantora), Nelson Pereira dos Santos (cineasta), Paul Goldberger (crítico de arquitetura), Randal Johnson (pesquisador), Roberto Calasso (crítico, ensaísta e editor), Sergio Miceli (sociólogo), T.J. Clark (crítico de arte e historiador), Tales Ab’Saber (psicanalista), Vladimir Safatle (filósofo) e Wander Melo Miranda (professor de literatura).

2014 – 60% de escritores de não ficção ou não escritores
Nº de convidados: 47
Nº de escritores de não ficção ou não escritores: 28
Quem são: Agnaldo Farias (curador e crítico de arte), Andrew Solomon (jornalista e ensaísta), Beto Ricardo (antropólogo), Cacá Diegues (cineasta), Cássio Loredano (desenhista), Charles Ferguson (documentarista), Claudia Andrujar (fotógrafo), Claudius (desenhista), Davi Kopenawa (líder indígena), David Carr (jornalista), Edu Lobo (músico), Eduardo Viveiros de Castro (antropólogo), Eliane Brum (jornalista e escritora), Francesco Dal Co (historiador da arquitetura), Glenn Greenwald (jornalista), Graciela Mochkofsky (jornalista), Hubert (humorista), Jaguar (cartunista), Jailson de Souza e Silva (professor), Marcelo Gleiser (físico), Michel Pollan (jornalista e escritor), Paula Miragila (antropóloga), Paulo Mendes da Rocha (arquiteto), Paulo Varella (geólogo), Persio Arida (economista), Reinaldo (humorista e cartunista), Rene Uren (conselheira da cooperação alemão para o desenvolvimento sustentável) e Sérgio Augusto (jornalista e ensaísta).


Fonte: G1

29 de julho de 2014

Revista Pacheco: Concursos Literários: 3º Concurso de Contos de Ituiutaba - "Águas do Tijuco"


A Fundação Cultural de Ituiutaba, com o objetivo de promover a literatura nacional, abriu inscrições para o 3º CONCURSO DE CONTOS DE ITUIUTABA “ÁGUAS DO TIJUCO”. O concurso dará ênfase a um único gênero literário: o conto.

As inscrições podem ser feitas até 01 de agosto. Cada escritor poderá participar com apenas um conto e sem limite de páginas.
Poderão participar brasileiros residentes em qualquer estado da federação e egressos de território internacional.
Saiba mais sobre Ituiutaba

O município teve vários nomes no decorrer de sua história: Campanhas do Tijuco, Capela do São José do Rio Tijuco (1833), Distrito de São José do Tijuco (1839), Vila Platina (1901) e, finalmente, Ituiutaba (1915), termo tupi que significa "aldeia do lamaçal do rio", pela junção de 'y (rio), tyîuka (lamaçal) e taba (aldeia) , ou ainda "povoação do rio Tijuco". Tijuco significa "lama". Seus principais fundadores foram os desbravadores e viajantes Joaquim Morais e José da Silva Ramos, cujos descendentes permaneceram nessa região.

Os habitantes da região eram os ameríndios caiapós, chamados de tabajaras ou "bilreiros", pertencentes ao grupo jê, popularmente chamados de "bugres".

Por volta de 1819, chegaram, à região do Rio Tijuco, Joaquim Antonio de Morais e José da Silva Ramos, com suas famílias. José da Silva Ramos propôs ao concunhado mais jovem, Joaquim Antonio de Morais, separarem uma parte de suas glebas para a construção de uma capela e um cemitério.

Em 1830, chegou, à região, o padre Antônio Dias Gouveia, em companhia de seus sobrinhos. Empenhou-se em concretizar a construção da capela e do cemitério com o apoio dos moradores da região.

Por volta de 1832, foi edificada a primeira capela em honra a São José, e, em torno dela, nasce o "Arraial São José do Rio Tijuco", pertencendo ao município de Prata. A emancipação aconteceu por força da Lei Estadual de nº 319, de 16 de setembro de 1901, passando a chamar-se Vila Platina.

Em 1915, o município passou a chamar-se Ituiutaba.

21 de março de 2014

A Dama da Noite, por George dos Santos Pacheco


Havia chovido o dia inteiro em Friburgo. Os relâmpagos cruzavam o céu como em uma demonstração da ira divina. Não que fosse muito comum Ele descarregar sua cólera, mas é que o mundo andava muito mal comportado. A tão famosa fonte da vida desabava fortemente fazendo as pessoas caminharem apressadas pelas ruas à procura de abrigo, os carros, na medida do possível. Em alguns lugares, a água invadira completamente as calçadas e, de certa forma, a soma disso tudo me ajudou bastante. Sou taxista e, até aquele momento, havia feito inúmeras viagens com os pedestres pegos desprevenidos pela chuva, faturando uma boa grana. 

Já era quase meia noite e eu estava tão cansado que não pensava em outra coisa senão voltar para casa, tomar um banho quente, beber um pouco de café forte e deitar em minha tão confortável cama.

Saí do centro da cidade com certa facilidade. Àquela hora o trânsito já estava bem melhor, mas como todo bom apressado, procurei o primeiro atalho. Taxistas têm essa vantagem sobre os cidadãos comuns: conhecem todas as ruas possíveis e imagináveis do lugar, tornando rápido (ou lento) qualquer trajeto.

A rua era deserta e sem iluminação. Não havia casas, nem bares. Apenas árvores, arbustos e algumas sempre-vivas que mesmo à noite, coloriam as calçadas sem cimento, ao serem iluminadas pelo clarão de meus faróis. Da estrada podia-se avistar um barranco, não muito íngreme, terminando em um rio, que serpenteava, acompanhando-me. 

Após uma curva fechada, vi alguém parado à beira da pista e decidi encostar o carro. Seria meu último passageiro. No meu caso, pessoas são dinheiro, e eu não estava em condições de dispensar ninguém.

– Está precisando de ajuda? – perguntei após acender a luz do salão, me inclinando na direção da janela do carona.

– Sim... – respondeu com uma voz fininha e sem força. Era uma mulher. Tinha os cabelos molhados e caídos sobre o rosto, e sua cabeça estava levemente inclinada para baixo.

– Entre no carro! – pedi com um sorriso e ela atendeu prontamente. Até porque ela não podia desperdiçar uma chance dessas. Dera uma tremenda sorte em eu ter passado por ali. Muita sorte mesmo.

– Obrigada... – agradeceu ela sem vigor.

– Mas você está toda molhada! – observei ainda com a luz do salão acesa. 

Tive um ímpeto de tirar seus cabelos do rosto com os dedos, mas acho que ela não gostou muito da ideia e ao perceber isso, ela mesma o fez. É claro que pude observar outras coisas naquele minuto em que a luz ainda estava acesa. A moça aparentava uns vinte e três anos, apesar de suas sardas darem a ela feições infantis. Talvez tivesse um metro e sessenta. Seus cabelos eram negros, na altura dos ombros, mas podiam ter outra cor, pois estavam inteiramente molhados e não se podia distinguir perfeitamente. Usava um belo vestido vermelho cereja, que estava colado ao corpo pelo efeito da água. Tinha a pele branquíssima, coxas grossas e seios pequenos e firmes. 

– Não sente frio? – perguntei ao apagar a luz.

– Não... – disse ela calmamente ao me olhar pela primeira vez diretamente nos olhos. Havia algo neles que não pude distinguir claramente no momento, mas que me deixaram profundamente impressionado, numa sensação de quase torpor.

–Onde quer que eu a leve? Fique despreocupada, não vou lhe cobrar nada. Acredito que esteja com problemas, e estou disposto a ajudá-la.

– Obrigada mais uma vez. O senhor é muito gentil...

– Não precisa me chamar de senhor – disse arrancando com o carro. Já dormi com várias clientes minhas, mas ela... Ela era diferente. Tentei ser o mais cortês possível, como em nenhuma outra ocasião.

– Desculpe-me – disse ela com a mão na cabeça e cerrando os olhos, parecendo um pouco confusa. – Leve-me até o cemitério...

Estranhei, mas não pedi que ela confirmasse. A necrópole ficava próxima ao centro e havia muitos prédios de apartamentos por lá. Podia ser também que ela quisesse fazer algum tipo de culto religioso e nesse tipo de coisa eu nunca gostei de opinar.

– Aquela rua era muito perigosa para uma moça linda como você estar a essa hora. O que aconteceu? – perguntei.

– Eu estava indo para uma festa com uns amigos, mas... não deu... – balbuciou cabisbaixa.

Provavelmente brigou com o namorado a caminho da festa. Deve estar carente... Da parte dele, acho que foi muito irresponsável tê-la largado naquela estrada. Era um pulha!

Passei pelo caminho mais longo até o destino, para ganhar tempo, é evidente, embora um taxista nunca deva se atrasar. O cliente sempre em primeiro lugar! Porém ela se mostrava abstrata, e seu olhar e suas feições eram inexpressivos.

– Obrigada... – murmurou secamente ao abrir a porta do carro, logo após eu pará-lo.

– Hei! Não vai me dar ao menos seu telefone? – disse ao segurar sua mão.

– Não faça isso! – advertiu ela, chorosa, dando-me as costas em seguida.

Estava começando a achá-la muito esquisita, mas mesmo assim preferi aguardar. Podia ser que depois de feitas suas orações ela necessitasse de alguém para levá-la definitivamente para casa, e esse alguém é claro que seria eu. Fiquei a olhando caminhar na direção do cemitério, sem parar nem um momento. Foi quando meus músculos enrijeceram, no momento que fui tomado por um frio intenso, que me subia dos pés a cabeça, acompanhado de tremor e calafrios. A minha dama havia atravessado os portões fechados da necrópole sem ao menos tocá-lo, parecendo uma névoa evanescente. Meti a mão na ignição, virando a chave, desesperadamente, consecutivas vezes, mas o desgraçado do Chevette insistia em não pegar!

– Deus do Céu! - exclamei, já com a intenção de abandonar o carro e correr. Foi na última tentativa que o táxi ligou e saí em disparada, cantando pneus. Enquanto dirigia, ainda trêmulo e ofegante, sob o efeito do susto, fui ligando os fatos. Quando peguei a moça, apesar de ter chovido o dia inteiro, fazia horas que não caía uma só gota d'água e, no entanto, ela estava completamente molhada. No caminho ela disse que ia para uma festa, mas não pode ir, sem contudo justificar. Ao sair, toquei em sua mão e ela estava gelada, tal qual uma pedra de mármore. Lembrei-me então que há alguns anos um grupo de jovens acidentou-se naquela estrada. O motorista, em princípio embriagado, perdera o controle do veículo, que desceu o barranco, caindo emborcado no rio. Todos morreram.

Esta noite eu não consegui dormir, perturbado com o encontro que tive. Relembrava cada momento, cada frase, e, principalmente, cada detalhe daquela mulher, e, depois desse dia, eu não me interessei por quaisquer clientes, por mais belas que fossem. Eu não conseguia - e nem queria  tirar aquela moça da cabeça. Aqueles olhos, parecendo perdidos, o corpo perfeito e a pele fria, macia e suave ao toque, eram as únicas coisas em que eu pensava o tempo todo. E por mais que eu voltasse ao mesmo lugar, à mesma hora, nunca mais a vi, exceto em meus sonhos, onde está mais linda do que nunca, com um sorriso resplandecente e cabelos que esvoaçam com uma leve brisa.

Vez ou outra, sinto o mesmo perfume que senti naquela ocasião, um cheiro doce e calmante e tenho a impressão que ela está por perto. Nessas horas eu lamento por não saber ao menos seu nome, e por isso eu a chamo de Dama da Noite. Então eu choro feito um lobo que uiva ao luar, como se quisesse trazer a própria lua para perto de si. Nosso encontro não deveria ter sido àquela noite. É que eu cheguei tarde demais...

George dos Santos Pacheco
 
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